Talvez fosse o 3º copo, não tinha certeza.Mas quem se importava? Eu por enquanto, não.
Gostava de sair durante a noite, principalmente, sexta-feira.O dia seguinte, não tinha nada importante e a cama convidativa seria minha até o entardecer.Uma cama de casal, só minha, afinal, já fazia um bom tempo que não a dividia, com ninguém.
Sentia meus dedos deslizando na superfície lisa do copo, mas, meus olhos seguiam os movimentos ágeis de uma mão sobre folhas brancas.Era um rapaz.Muito bonito, por sinal.Estava desenhando alguma coisa, apesar da distância, era nítido os movimentos circulares, o sobe-desce, muito bem delineado para uma simples escrita.
Constantemente sua presença era notável naquele bar charmoso, todas as sextas, dezoito horas, com caderneta e o estojo, em seguida acompanhado de uma dose de vinho.Sorri ao imaginar o que um homem tão bonito estaria fazendo naquele lugar, sozinho, quando a sexta-feira é o um dia digno de “solteiros à procura”, não que estivesse buscando, mas não queria embrenhar-se entre casais e beijos para torna-se uma vela ambulante.
Num breve momento de audácia chamei o garçom e pedi que oferecesse aquele rapaz uma bebida por minha conta, um ato muitas vezes iniciado por um homem na tentativa de atrair a mulher, eu sabia disso e o garçom também, -sua expressão de espanto era claramente visível - mas esses tempos estavam ficando para trás.Ele assentiu e dirigiu-se ao jovem surpreendendo-o, que ergueu seu olhar confuso e que procurou pelo recinto a causa do ocorrido, seu olhar encontrou o meu e o garçom prontamente confirmou sua dúvida, e então meus lábios contraíram-se em um sorriso para ele, e pude notar um ligeiro e discretíssimo rubor subir por suas bochechas.
Ele aceitou o pedido e conversou algo com o garçom, mas sua reação seguinte causou-se um leve susto, observei enquanto ele recolhia o material e vinha em minha direção, não pude evitar corar quando ele se aproximou da mesa sorrindo gentilmente.Não esperava por aquilo, sinceramente.
-Olá? – Sua voz suave, porém grossa, detonava insegurança.
-Olá.-Retribui o sorriso.
-Eu...Posso sentar? – Com um gesto indicou a cadeira à minha frente.
-Claro!Fique a vontade. – Tomei outro gole da bebida que jazia esquecida na minha frente.
-Gostaria de agradecer pela bebida, e perguntar se poderia lhe fazer companhia.Fico realmente grato, não é todo dia que uma linda mulher oferece bebida para mim, ou para um homem como eu.
-Uma companhia não está nada mal.Mas por que diz isso?! Sinceramente, você é muito bonito, me admiro que não receba cantada e e-mails todos os dias. –Ofeguei chocada.
Ele riu.
-Algumas mulheres sempre aparecem com segundas intenções, se é que você me entende.-Ele colocou o caderno sobre a mesa. –E eu não curto muito disso, gosto de conhecer a pessoa primeiramente. – O dedilhar dos seus dedos denotava vergonha.
-Entendo.Não fique assim, é questão de opinião, e se a pessoa não gosta problema é dela.-Revirei os olhos.-Mas posso contar algo que vai lhe surpreender?
-Por favor.
-Essa é a primeira vez que ofereço uma bebida a alguém, especialmente para um homem.-Ri com sua expressão incrédula.
-Verdade?!- Ele, admirou.
E então, eu ri mais ainda, enquanto o garçom trazia a bebida dele.
-Mas por que essa confiança com minha pessoa?
-Não consigo explicar, apenas fui com a sua cara.Por que a surpresa?
-Por que sinto honrado ao ser o primeiro homem que lhe acompanha em uma bebida.È verdade que não à vejo se relacionar com ninguém por aqui...
-Como sabe? – Cortei.
-Você não é a única que por acaso “foi com a cara de alguém”.–Indicou o gesto aspas com os dedos, rindo.
-Oh! Jura?! – Ele consentiu para mim.
-Não pude deixar de reparar.Você sempre está sozinha, bebendo algo, e totalmente perdida em seus pensamentos.Não vou mentir, quando a notei, imaginei várias maneiras de aproximar-me de você, mas a vergonha falava mais alto.Ou é pura sorte, ou muita coincidência você ter me oferecido uma bebida.
-Ou o jogo “vou desenhar para atrair a atenção daquela moça” funcionou.-Tampei a boca.- É brincadeira, você me atraiu pelos mesmos motivos que eu a você, um rapaz tão bonito perambulando por ai, sozinho.-Ele tomou um gole da caipirinha de saquê, para a minha perplexidade.Ele não gostava de vinho?Questionei-me.
Ele riu,e em seguida observou-me– Mas o que chamou minha atenção, foi a sua confiança,sabe,eu poderia partir o seu coração.
-Não se pode partir um coração partido.-Sussurrei.
-E quem partiria o coração de uma bela mulher? – Observei ele pender a cabeça para o lado.
-Um insensível...-Hesitei.- Que me abandonou ao altar.-Abaixei a vista, impedindo que ele olhasse em meus olhos.
-Então, com o perdão da palavra, ele é um completo idiota.-O jovem balançou a cabeça em sinal de negação.
-É? – Arqueei minha sobrancelha observando-o.
-Sim! Por duas coisas.Primeira; Porque ele acabou de perder uma mulher maravilhosa. Segunda; Ele deu-me a oportunidade de te conhecer e quem sabe...Consertar seu coração.- Um sorriso malicioso desenhou-se em seus lábios, e eu sem resistir, gargalhei.
-Bom, por que não conta à história desde o início para que eu possa consertar e melhorar ao meu modo. –Continuou. – Sou Jhon, e você?
-Christine....Bem!!! Tudo começou com...
Pauta escrita por Jessica,Projeto Bloínquês - 55ª Edição Músical